Resenha do livro: O Sonho de Eva - Chico Anes

Editora: Novo Conceito
Ano: 2012
Páginas: 304
Avaliação: 4/5

Sinopse:
Dr. Eva Abelar, autoridade mundial em sonhos lúcidos, é informada de que seu filho, Joachim, uma criança autista, desaparece na mesma noite em que sua irmã, Anna, pula do 20º andar de um edifício em São Paulo. Anna era a principal cientista do projeto DreamGame, invento revolucionário que permite à pessoa jogar enquanto dorme. Eva é convidada por Yume a assumir o lugar da irmã e, à procura de respostas, se envolve em uma trama perigosa, que alcança os limites dos desejos inconscientes do homem. Enquanto usa seus conhecimentos para desvendar a verdade por trás da morte de Anna e reencontrar Joachim Eva descobre o quanto a sociedade está vulnerável à tecnologia e aos estímulos subliminares, e como esses estímulos podem sequestrar a liberdade e extinguir o livre-arbítrio.

Esse é outro livro que consegui na bienal super barato! Além da capa belíssima, o que me chamou a atenção foi a história cuja temática de sonhos lúcidos é inovadora, ainda mais aliada à tecnologia. O fato do autor ser brasileiro me deixou muito feliz, porque mostra que os nossos autores também são capazes de produzir excelentes obras literárias, apesar de ainda não haver um mercado tão grande para eles.
Será que não trazemos para nossas vidas os ecos de nossos sonhos?
O livro já começa bem dinâmico com a morte de Anna e sumiço de Joachim enquanto eva dá uma palestra sobre superconsciência na Universidade de Viena. Outros dois personagens importantes não demoram a aparecer: Dr. Alec, ex-namorado de Eva, que ainda gosta dela e é psiquiatra e Zed, um menino, paciente de Alec, com algumas teorias da conspiração que a princípio pareciam pura invenção, mas, mais tarde, tornaram-se importantes para o desenrolar e entendimento da história.

Para ser sincera, todos os personagens passaram um pouco batidos, pelo menos pra mim. Achei-os pouco complexos e seus dramas e desejos pareciam secundários diante do tema principal que era o projeto DreamGame. Até mesmo a busca de Eva pelo filho parecia adquirir posição secundária sempre que a Yume ou a temática de sonhos lúcidos aparecia em cena. Zed, apesar de suas poucas aparições, foi o personagem que me cativou com a sua crença na veracidade da história d'Os Nove Desconhecidos. Alec, por aos poucos ir acreditando em seu paciente e, mais tarde, mergulhar de cabeça em todos os acontecimentos também adquiriu minha preferência, mas Eva... essa daí passou longe de ser qualquer coisa além da protagonista de uma excelente história. E, pra mim, é nisso que o autor peca um pouco.

Mas o que falta aos personagens é compensado completamente pelo enredo. Chico Anes realmente explorou o campo da psicologia e dos sonhos lúcidos para escrever esse livro e relacionou-os muito bem à criação de um jogo. O motivo inicial que dá ritmo à história é a busca de Eva pelo filho, mas logo que ela envolve-se com a Yume a história toma rumos mais variados e nos desperta diversos pontos de interesse. Questões como: em quem se pode confiar? Até que ponto vai o envolvimento de Adhya, a vice-presidente executiva da Yume? Até onde todos são capazes de ir para obterem o que querem? começam a nos mover além da questão central: será que Eva conseguirá encontrar seu filho? Além disso surge a curiosidade em saber como Eva engravidara, uma vez que ela ainda estava namorando Alec quando isso aconteceu e nem ele nem ninguém sabem quem é o pai ou o que acontecera.

Como nem tudo é perfeito e o enredo possuí seus clichês e obviedades. O caráter dos personagens, apesar de às vezes ser posto em dúvida, pode ser facilmente deduzido e mesmo aqueles que se tornam amigos ou inimigos não geram grandes surpresas. Apesar de haver algumas reviravoltas interessantes na história, elas também não fugiram muito do previsível. Outra coisa da qual não gostei foi o final, que foi muito clichê e entrou em certos detalhes que, por mais que fossem interessantes, achei meio descontextualizados, como se fosse apenas uma explicação final que não tinha exatamente um lugar a ser posto no livro. Mas são reflexões pertinentes e considero-as válidas.

O ritmo de leitura é ótimo. O autor é bem objetivo tanto nas suas descrições quanto nos seus diálogos e o desenvolvimento do enredo gradativamente vai fazendo com que seja cada vez mais difícil parar a leitura. Li os últimos capítulos como se não houvesse amanhã. Fazia muito tempo que um livro não me prendia tanto. Apesar das críticas, foi um dos melhores livros que li no ano.

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